Menino de 4 anos morto durante operação policial é sepultado no litoral de SP; VÍDEO
07/11/2024
Ryan da Silva Andrade Santos foi baleado no Morro São Bento, em Santos. O pai dele, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, realizada entre janeiro e abril deste ano. Moradores acompanham cortejo do menino de 4 anos que morreu baleado em Santos, SP
O menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto durante uma ação policial em Santos, no litoral de São Paulo, foi sepultado na manhã desta quinta-feira (7) no Cemitério da Areia Branca.
A TV Tribuna, emissora afiliada à Globo, registrou o cortejo do corpo pelo morro onde a criança foi morta (assista acima). Segundo a Polícia Militar, o tiro 'provavelmente' partiu da arma de um policial.
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Ryan foi baleado durante um confronto policial no Morro São Bento, na noite de terça-feira (5), e morreu na Santa Casa de Santos. Na ocasião, dois adolescentes, de 15 e 17 anos, também foram atingidos por disparos. Segundo a polícia, a dupla era suspeita. O adolescente mais velho morreu e o outro foi socorrido sob escolta.
Corpo de menino de 4 anos é sepultado em Santos, SP
O velório de Ryan começou na noite de quarta (6) e durou até a manhã desta quinta-feira. O g1 apurou que o cortejo com o corpo da criança subiu o Morro São Bento, onde ele foi baleado e, depois, seguiu para o Cemitério da Areia Branca, onde foi sepultado.
A criança havia perdido o pai baleado por policiais militares há quase nove meses no mesmo bairro. Conforme apurado pelo g1, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, que aconteceu entre janeiro e abril deste ano. Ele estava com um amigo, Jeferson Miranda, de 37.
Cortejo de Ryan pelas ruas de Santos, SP
Reprodução
O que aconteceu, segundo a polícia
De acordo com o boletim de ocorrência, a ação que resultou na morte de Ryan aconteceu durante um patrulhamento de rotina da Polícia Militar (PM) por volta de 20h15 de terça-feira, no Morro São Bento, entre as ruas São Sérgio e São Fernando. Apesar de Ryan ter sido morto, essa informação não consta no BO do confronto.
Segundo o registro policial, três viaturas da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) estavam pelo bairro quando viram que aproximadamente dez homens, sendo quatro em motocicletas. Eles fugiram ao notarem a equipe policial.
No BO consta que o grupo correu até um ponto de tráfico de drogas e , por isso, os policiais precisaram desembarcar das viaturas para iniciarem as buscas. Em depoimento, os agentes contaram que se aproximaram dos suspeitos, que começaram a atirar. Os policiais revidaram e solicitaram apoio.
A outra equipe da PM chegou pela parte superior do morro e surpreendeu ao menos oito dos suspeitos, que voltaram a disparar contra os policiais. Foi nessa segunda troca de tiros que os dois adolescentes acabaram baleados.
Cortejo de Ryan aconteceu na manhã desta quinta-feira em Santos (SP)
Reprodução
Segundo o registro policial, os dois suspeitos baleados foram socorridos para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste e para a Santa Casa de Santos. Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, morreu.
O segundo adolescente, de 15 anos, permaneceu sob escolta logo após receber o tratamento médico na Santa Casa.
O g1 tenta contato com as famílias de ambos para saber a versão delas sobre os acontecimentos, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Familiares e vizinhos
Caso ocorreu no Morro São Bento, em Santos (SP). Ryan, de 4 anos, estava brincando na rua quando foi atingido.
Redes sociais e Arquivo Pessoal
Segundo familiares e vizinhos que testemunharam a ação, os agentes chegaram atirando.
A cozinheira Beatriz da Silva Rosa, de 29 anos, viúva de Leonel e mãe de Ryan, acredita que o filho também foi alvo de um disparo da Polícia Militar (PM). De acordo com ela, o menino estava brincando com aproximadamente outras dez crianças em frente à casa de uma prima dela quando foi atingido.
“Os policiais chegaram atirando em cima de dois meninos, que eu acho que estavam ‘de fuga’. Só que eles viram que a gente estava na parte de cima [da rua] com as crianças e tudo, mas começaram a atirar”, relembrou a mulher, que presenciou a cena.
Segundo ela, todos saíram correndo com os disparos. No entanto, o filho acabou atingido na barriga. Ele foi socorrido pela própria população e levado até a Santa Casa, mas não resistiu.
Leonel de muletas
Leonel Andrade e Ryan da Silva Andrade morreram com intervalo de nove meses no Morro São Bento, em Santos (SP)
Arquivo Pessoal
Conforme apurado pelo g1, o pai de Ryan, Leonel, usava muletas quando foi baleado. Segundo a família, ele não conseguiria empunhar uma arma para trocar tiros com os policiais, como o caso é descrito pelos agentes no Boletim de Ocorrência.
"Ele tinha dificuldade para se segurar, andar e se locomover com as muletas. [...] Até embaixo do sovaco vivia cheio de calos. Não tem como, não teve troca de tiros", disse Beatriz, na época do caso.
Homem morto em operação policial, no Morro São Bento, em Santos, foi fotografado uma hora antes de morrer
Reprodução
Uma moradora da comunidade fotografou Leonel aproximadamente uma hora antes da morte ao lado das muletas (veja acima).
Conforme apurado pelo g1, a foto de Leonel foi feita sem querer. Ele apareceu na imagem enviada por uma moradora a um motoboy para que o profissional visse o local da entrega de um pedido. O registro foi enviado à esposa de Leonel um dia após o sepultamento.
O homem estava na fila de espera para uma cirurgia de retirada do projétil alojado no joelho há 15 anos, quando foi baleado pela polícia. A esposa contou que, na época, o marido era envolvimento com o tráfico de drogas e ficou preso por 10 anos, mas, após isso, deixou o crime. Ela ainda garantiu que ele não tinha uma arma.
O que disse a SSP-SP?
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo(SSP) lamentou a morte da criança durante um confronto. A pasta informou, ainda, que a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu o menino.
Na época em que Leonel foi morto, a SSP-SP disse que ele e o amigo, Jeferson, foram baleados e mortos após apontarem armas para policiais militares durante uma ocorrência de tráfico de drogas.
A SSP-SP afirmou que a dupla foi socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Na ação, foram apreendidos com eles um revólver calibre 38, uma pistola calibre 35, dois rádios transmissores e cerca de cinco mil porções de drogas, além de quantia em dinheiro.
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